segunda-feira, outubro 13, 2008

Eu era professora


Há muitos e muitos anos (não tantos assim, mas os últimos parecem séculos...), eu era professora.Ia para a escola com satisfação, dava as minhas aulas com alegria, com gosto, relacionava-me bem com alunos e colegas, emocionava-me com todas as pequenas conquistas dos meus meninos, acordava de noite com mais uma ideia para aplicar nas aulas, com mais uma solução para um ou outro caso "bicudo" e tornava a dormir, tranquila até de manhã.Passava horas na escola fora do meu horário a ajudar alunos nos seus problemas, pessoais e de aprendizagem, e tinha, de facto, tempo para isso e para elaborar jogos didácticos, ensaiar peças de teatro com os alunos e tantas outras coisas mais, que enriqueciam o meu quotidiano e o dos miúdos. Curiosamente, ainda tinha tempo de qualidade com a família, que não sofria com o meu, agora constante, mau humor...!Há muitos e muitos anos, eu era professora. Não era administrativa, burocrata, bibliotecária, informática, secretária, vigilante, ocupadora de tempos livres ... não passava horas na escola sem as rentabilizar, não tinha que vir para casa esgotada por efectuar serviços que não me competiam, não estava preocupada em apresentar lindos dossiers e portfolios, magníficos relatórios de actividades e avaliações de serviços.Há muitos e muitos anos, eu ensinava! A estudar, a aprender, a sociabilizar, a viver melhor e ainda me sobrava tempo para cumprir o programa da disciplina...Tenho saudades de ser professora!!Alguém me esclareça, por favor, em que é que todo este quadro de desmotivação, de tristeza, de frustração diária, de cansaço constante, dos professores, beneficia os nossos alunos, porque eu, por muito que tente, não o consigo entender.
Ao correr da pena

quinta-feira, maio 22, 2008

Kima Margarida


Já lá vão uns meses largos desde que a nossa "mamã" canina partiu. E não queria... nem ela, nem nós, que a amamos tanto e fomos obrigados a ajudá-la a deixar de sofrer. Talvez por isso, tenha tardado tanto este desabafo...
A Kima era uma resistente, por natureza.

Veio para nossa casa com seis meses e meio, assustada, carente, maltratada pelo anterior dono, que a comprou porque era de raça, pequenina e engraçadinha, mas que se esqueceu de que ela era um ser vivo e não um brinquedo que se arruma numa prateleira quando aborrece! Não lhe deu carinho, antes pelo contrário, não lhe ensinou regras de higiene e passou-a de casa para casa até ir parar à nossa veterinária com a indicação de a abater. A senhora ligou-nos, fui vê-la e foi amor à primeira vista!!
Cheia de medo, inicialmente, rapidamente trepou para o meu colo e se enroscou, com um suspiro de alívio. Saltou para dentro do meu carro, acomodou-se no banco do passageiro e ficou à minha espera. Conduzi até casa com um focinhinho negro colado à minha mão em cima da manette de velocidades.
Com o Pedro, que adora cães, a adaptação foi mais difícil e só percebemos o motivo mais tarde, quando a veterinária nos explicou que ele, fisicamente, era muito parecido com o anterior dono; aliás, a primeira coisa que a Kima fazia, quando o Pedro pegava nela ao colo, era tirar-lhe os óculos com a patinha...
Demorou bastante tempo a entender que, quando saíamos para trabalhar, não estávamos a abandoná-la; voltávamos a casa, a meio do dia, só para ela entender que não ia ser rejeitada novamente. Aprendeu regras de higiene ao primeiro dia, pedia para sair, nunca sujou nada em casa e era uma companheira fantástica, brincalhona, preocupada e dedicada a todos nós. Tinha uma personalidade vincada, delimitava o seu território (basicamente, toda a casa à excepção da nossa cama) e tomou a nossa filha sob a sua protecção e tutela.
Deu-se toda e ainda nos deixou quatro filhotes lindos, iguais à mãe, a Cookie, a Shaddow, a Flor (que partiu cedo demais) e o Kikko. Comandava as tropas com "pata" de ferro; ela mandava e a prole obedecia! Poupou-nos o trabalho de os ensinar, levando--os ao jardim e reclamando quando algum dos pequenotes infringia as regras da casa. Deixou também a sua presença em nós, para sempre.
Obrigada por teres partilhado a tua vida connosco, Kiminha, Monina do nosso coração!
Ao correr da pena

terça-feira, maio 20, 2008

Kikko


Ontem, o meu Kikko acordou bem devagar, sem energia, mortiço e triste. Só podia estar doente... não quis comer o biscoito matinal, não saltou e encolhia-se num canto.
Veterinário com ele: tem uma virose, vá lá a gente saber de que tipo e estava com mais de 40 graus de temperatura...
Medicado, passou a noite melhor, mas sempre com febre e desconforto. Parece melhor, agora, mas continua fraco, embora já tenha comido alguma coisa.
É nestas alturas que a gente deseja fervorosamente que ele desate a azucrinar-nos a cabeça, ladrando a plenos pulmões, até à sua sombra...

Ao correr da pena

Domingo


Domingo é dia de descanso, de pijama pela casa, de "laissez faire, laissez passer", que a semana é de loucos e é preciso relaxar...
O domingo é o dia da ausência de relógio, de comer quando há apetite, de dormir quando se tem sono, de preguiçar sem censura!
Não temos visitas ao domingo, nem almoço de domingo, nem missa dominical...perfeita anarquia temporal, ao domingo.
O único defeito do domingo é mesmo anteceder a segunda-feira...
Ao correr da pena

domingo, junho 25, 2006

Desabafo em cinzento escuro

Digo, para mim, que há, todos os dias, uma hora insuportável, lá para o fim da tarde, quando o dia e a noite começam a travar a batalha surda e estúpida que antecede, inevitavelmente, a derrota do dia.
Durante uma hora, ou coisa que o valha, não é dia nem noite e tudo começa a ficar escuro e cinzento dentro e fora de cada um. As cores ficam neutras, baças, envergonhadas e, dentro da alma de cada um, a vida começa a escoar-se pelos cantos e pelos becos até ficar tudo tão triste e tão morto como um chorão das margens do rio, em tempo de seca.
Confesso que, para mim, esta é a hora trágica do dia. Nunca consegui fugir-lhe, fingir que não dou por ela ou esconder-me a ponto de a esquecer.

Aconteça o que acontecer, todos os dias, à hora do cinzento, dou comigo a perguntar-me se valeu a pena ter vivido e feito o que fiz ou que não fiz durante o dia. Todos os dias, aconteça o que acontecer, chego à hora do cinzento derrotada e vencida. Quando o cinzento me caça na rua, fujo a sete pés para um refúgio, para um café, para casa de uma amiga, para uma biblioteca ou livraria, para um local qualquer onde haja luz eléctrica, barulho, ruído de vozes. Todos os dias, fujo de mim mesma, rindo, falando alto, abraçando amigos, fazendo o que posso para me afastar das dúvidas, das perguntas, da tristeza infinita que acompanha sempre, dentro e fora de mim, a chegada do cinzento.

É a essa hora que me vejo com maior crueza e que me dou conta da minha covardia, da minha fraqueza e do meu comodismo. É a essa hora que faço contas e que vejo o que ando a fazer e no que ando a perder inutilmente a vida. Às vezes, o cinzento caça-me a meio da estrada, entre dois pontos distantes, vindo do nada e a caminho do nada. Caça-me com um comentário de alguém, com uma sombra que atravessa a estrada, com uma luz perdida num vale distante, que acordam em mim a consciência esquecida de que chegou a hora baça e triste de encarar a realidade.

Esta semana, o cinzento apanhou-me entre a casa e a escola e deixou-me derreada, mais morta que viva, automaticamente desligada das pessoas que me acompanhavam e que por mim passavam, tão metida comigo mesma e com as coisas que trago em mim, que não teria ficado mais só se me tivessem abandonado no centro de um deserto qualquer.

Tudo isto estupidamente, inutilmente, imbecilmente, porque não há nada que me impeça (senão coisas sem significado algum) de romper as amarras e de redescobrir a aventura e o desafio da vida. Nada, mesmo nada. Tudo o que tenho a perder é feito de inexistências anteriores, de coisas que não contam, de explorações de que estou a ser vítima por minha própria culpa, por culpa do meu comodismo, da perda das qualidades que tinha de saber arrancar. Por culpa desta mania de fazer cerimónia com os outros, que se apossou de mim e que está a minar-me por dentro e a substituir-me pela covarde indigna de mim mesma em que me estou a transformar.

Tudo isto me vem, todos os dias, com o cinzento do virar da folha do calendário, com a consciência perfeita e iniludível de que não tenho outra oportunidade, de que estou num ponto que não é o meu e que não me interessa.

Li, um dia destes, que vale a pena viver...

Quando sopra o temporal, tenho de me fazer à vida para conservar a pele da alma, para não me afundar nos pântanos dos outros, para continuar de cabeça erguida, para não me desfazer em mil doações de mim mesma que acabam por enriquecer os cabedais dos outros, mas que me deixam mais pobre que sei lá o quê. Eu não sou pobre como sei lá o quê, gaita! Ando com uma fome danada de fazer coisas e passo o meu dia a cozinhar para os outros... !

Li, um dia destes, que vale a pena viver...

Nota à margem: Todas as pessoas devem pensar.

Ao correr da pena

segunda-feira, junho 05, 2006

Era uma vez

Há muitos anos, num país muito distante do que agora temos, existia um lugar mágico que se chamava escola.

Era um local de alegria, de partilha de saberes, de trabalho e de muito respeito e carinho entre todos os que nele viviam. Não bastava entrar na escola, era preciso demonstrar que se era merecedor de lá continuar; existiam regras de comportamento e de disciplina que, efectivamente, tinham que ser cumpridas!!

Não era fácil, porque a vida também não o é, e o objectivo primordial dessa escola era preparar os alunos para a vida, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para tal.

Os pais dos alunos preocupavam-se em manter contacto com a escola e em seguir de perto a evolução dos seus filhos, exercendo activamente a sua função de educadores, motivando-os para a continuação da sua aprendizagem. Ensinar era gratificante e aprender, edificante.

Um dia, vindas de um castelo longínquo, escondido pelas nuvens da ignorância e da incompetência, no alto de uma montanha política, , começaram a invadir a escola feitiços negros fortíssimos. Lançado o primeiro, que abalou a estrutura, outros o seguiram, minando os alicerces e atordoando toda a comunidade escolar.

Os terríveis resultados obtidos entusiasmaram os feiticeiros do castelo, que começaram, sucessivamente, a experimentar novas reformas, destruindo, progressivamente, o bom relacionamento entre professores e alunos, desmotivando-os para a prossecução dos seus objectivos, desvalorizando a competência e o saber, incentivando a falta de respeito e a preguiça e induzindo ao facilitismo.

Assim, geraram a confusão necessária para poderem continuar a manipular professores, alunos e pais, do alto do seu castelo nas nuvens...

E assim continuaram, por muitos e muitos anos.

Porém, um dia...

Cabe-nos encontrar um final digno para esta história, que nos traga de volta o prazer de ensinar, de aprender, de assistir à transformação das nossas crianças em homens e mulheres capazes, civilizados e motivados para a construção de um mundo melhor.

Ao correr da pena

domingo, abril 30, 2006

Ideias

À falta de melhor para fazer, apenas me ocorre escrever sobre algo no mínimo banal...
Hoje fomos à praia do Canidelo, talvez porque precisávamos de uma distração, uma quebra de rotina ou apenas apanhar Sol na cara pelo prazer de o fazer, imaginando apenas que a praia poderia não ser aquela mas sim uma outra... mais limpa, mais quente, com um mar mais azul... turquesa, e um céu raiado de lilás, como manda um tradicional pôr do Sol, dito belo! Quem sabe, talvez, num outro país... Embora sem hipóteses de tal, apenas com sonhos...!
Falando de outro país... Como sendo algo corriqueiro, discutível pelo menos uma vez por dia, pegámos no assunto "imigração" e há que começar a desenvolvê-lo! Realmente a ideia, por mais que o possa parecer, não é de todo disparatada... tendo em conta este nosso "Santo e adorado Portugal" até parece a coisa mais sensata de se pôr em prática!!! Mas não há bela sem senão... Fácil? Não deve ser... Então porquê? É, inegavelmente, uma óptima pergunta...! Por sua vez, a resposta a esta é bem mais simples que o acto em si... Melhores condições de trabalho, de habitação, também a nível de estudos... Agora, fazê-lo? Porque não? Porque sim...? Fica a pairar o pensamento...


Lia

sexta-feira, novembro 25, 2005

Introspecção

Aqui estou eu, frente ao computador, com a possibilidade de escrever o que me passe pela cabeça, sem perigo de críticas ou de repressão, completamente livre.... E que me ocorre? A multiplicidade de temas que lutam, dentro da minha cabeça, pela preponderância e pelo estrelato, afogam a minha verbe. Escrevo e apago, quase em automático, porque nada me parece lógico e interessante.
Falo da escola? Do quotidiano? Dos meus cães? Da minha relação com a vida, que se torna cada vez mais confusa? Daquilo que sei que sou, dividida entre o que posso e o que quero ser? Deste país, em que vivo, sem rei nem roque, nem perspectivas de futuro? Da amizade? Do amor?
Falemos de coisas boas, daquelas que aquecem o coração e que nos transformam o cinzento em explosões de luz... daquelas pequeninas coisas que acontecem na vida, que nos apanham desprevenidas no virar do sonho e nos fazem sentir vivos.
Um "amo ti" a meio do dia, a entrega do último cigarro do maço, quando não se pode ir comprar mais, o apoio quando se pensa em dar um trato no visual, os cestos de lenha vindos da garagem, dois andares abaixo, para que não tenhamos frio, uma cantiga desafinada ao telemóvel só para dizer "vou para casa", o prazer espelhado na cara e na voz porque, finalmente, resolvi escrever neste blog.
Tantas coisas boas...! Uma voz a chamar "maínha" ou a cantar "o meu amor é verde", as conversas de casa de banho, o "nonsense" praticado por puro prazer, a partilha de descobertas e de malandrices, de sucessos e de derrotas, as piadas ao desafio, uma mata e outra esfola, as frases incompletas por não ser necessário completá-las, o cuidado e a preocupação demonstrados perante o meu cansaço ou simples constipação, a cooperação em tempos de crise, a consideração e o carinho, na hora certa, sem lamechices!
Mais coisas boas: "-Dás-me café?". Muita alegria, maluqueira, sensibilidade à flor da pele "-Sou uma chorona!"; carinho, cuidado e muita amizade, para dar e vender... "-Tenho duas romãs, leva uma (a maior) que está no ponto e eu nem gosto muito...". Sempre atenta às menores mudanças de disposição, com uma piada brejeira na ponta da língua e a ficar corada num abrir e piscar de olhos. Desafia o mundo do alto do seu metro e meio e, até em sonhos, luta para defender as amigas. Um coração do tamanho do mundo, sempre com um cantinho livre para amar mais.
Os miminhos dos "canitos", a alegria (barulhenta) de me verem chegar, a ansiedade para ir deitar na almofada do quarto e os suspiros de satisfação depois de enrolados e quentinhos, o chorinho de preocupação se me sentem triste, a dedicação com que me seguem e demonstram que gostam de mim...
Tantas coisas boas e outras ainda que não digo ...
E, só porque consegui pôr estas aqui, hoje, neste espaço que é nosso, reforcei o escudo com que elas , juntas, me protegem e me fazem sentir mais forte e mais capaz!
Ao correr da pena